ESTÁCIO DE SÁ: O PORTUGUÊS QUE FUNDOU O RIO DE JANEIRO

Estácio de Sá nasceu em Santarém, em 1520. Pertencente a uma família nobre de Portugal, era filho do fidalgo Diogo de Sá, primo de segundo grau de Mem de Sá, governador-geral do Brasil. Devido a esse parentesco, Estácio era considerado por muitos como “sobrinho” de Mem de Sá. É difícil encontrar anotações dos primeiros anos de vida de Estácio. Seu período mais glorioso foi na fase adulta, quando ajudou a corte portuguesa a conquistar territórios inexplorados.

Para reafirmar seu poder sobre o território brasileiro, Portugal mandou que Mem de Sá viajasse ao Brasil, com o intuito de impedir o avanço da França sobre as terras ainda não colonizadas pela coroa portuguesa. Em 1557, Estácio desembarcou pela primeira vez no país, para ajudar seu “tio” na missão. A tentativa inicial de dominar a baía não deu certo. Apesar de conquistar o Forte Coligny, na Ilha de Serigipe, com o apoio de colonos e jesuítas da Vila de São Vicente, em 1560, Estácio e Mem de Sá enfrentaram dificuldades para permanecer na região por causa de problemas nas embarcações.

Com o recuo obrigatório, os franceses ocuparam novamente o forte com o apoio dos índios tamoios que ali viviam. Estrategicamente, após a derrota, Estácio voltou à sua terra natal na tentativa de conseguir mais ajuda para a batalha.

Em 1563, D. Catarina, regente do trono português, ordenou que Estácio de Sá voltasse ao Brasil como chefe da esquadra destinada a dominar a região. O militar chegou à baía em fevereiro de 1564 e, percebendo que os índios estavam mais fortes, devido à aliança com os franceses, partiu para São Vicente em busca de reforço. Lá, recebeu apoio dos padres jesuítas Manuel de Nóbrega e José de Anchieta, que recrutaram habitantes locais, inclusive índios, para se juntar a Estácio de Sá. No dia 20 de janeiro de 1565, todos partiram para a baía e receberam auxílio de indígenas vindos do Espírito Santo. Após algumas semanas de batalha, os franceses foram expulsos da antiga França Antártica.

Estácio fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1° de março de 1565, aos pés do morro do Pão de Açúcar. O nome original da cidade era uma homenagem ao jovem rei de Portugal, D. Sebastião.

El-rei admitiu Estácio de Sá, ainda na cidade de São Sebastião, como noviço, na Ordem de Cristo, pela Carta Régia de 8 de março de 1566, reconhecendo D. Sebastião que o conquistador do Rio de Janeiro poderia ainda "fazer muitos serviços a Nosso Senhor, e a mim e aos Reis destes reinos governadores e perpétuos administradores da dita Ordem"(31). O fato de o rei ter dispensado Estácio de Sá do cumprimento das formalidades probatórias necessárias ao ingresso na Ordem de Cristo ressalta sobremodo a alta consideração que o monarca atribuiu ao feito de Estácio de Sá no Rio de Janeiro e a existência de dificuldades naturais que o capitão-mor enfrentaria para cumprir tais formalidades à risca, antecipadamente.

Quatro meses depois de fundada a cidade, o padre Quiricio Caxa, em carta ao provincial dos jesuítas em Portugal, de 13 de julho de 1565, louvou Estácio de Sá, afirmando que

"se os merecimentos dos Capitães fazem alguma coisa para serem ajudados e favorecidos nas coisas árduas e grandes que empreendem em serviço de seu Senhor e Rei, os de Estácio de Sá são tais quais convêm a um Capitão afamado por sua prudência e siso para determinar-se quando há de acometer-se e seu ânimo e constância para acometer e levar adiante o determinado

Entre março de 1565 e janeiro de 1567, Estácio participou ativamente da vida na cidade. Nesse primeiro momento de colonização, era o capitão-mor, responsável por nomear juízes, prefeitos e conceder sesmarias - distribuição de terras destinadas à produção agrícola para povoar o local.

Segundo relatos, ele lutou bravamente para reafirmar o poder lusitano no Rio de Janeiro, resistindo a diversas investidas de franceses e indígenas, ao longo do tempo em que esteve no comando. Nos registros históricos, não se fala sobre a vida particular do militar português, se teve filhos ou família.

Apesar de expulsos da cidade, os franceses não desistiram de conquistar o local onde foi fundado o Rio. Os dois anos seguintes à conquista dos lusitanos foram de intensas investidas por parte dos inimigos. Para ajudar o capitão-mor a manter o poder sobre a região da antiga França Antártica, em 20 de janeiro de 1567 chegou ao Rio uma esquadra vinda do Nordeste, comandada por Cristóvão de Barros. O reforço foi fundamental para a vitória nas batalhas do Uruçumirim e da Ilha Paranapuã, que estavam acontecendo naquele período.

No mesmo dia da chegada de Cristóvão, Estácio foi atingido, no rosto, por uma flecha envenenada, na batalha de Uruçumirim, vindo a falecer em 20 de fevereiro, um mês depois, devido às complicações do ferimento. Seus restos mortais estão hoje em um túmulo, na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca.

Na cidade que ajudou a construir, o militar português também recebeu outros reconhecimentos. Criado em 1865, o bairro do Estácio, na Zona Central, é um deles. Conhecido por, no passado, ser um lugar de moradia das classes média e média baixa, tem hoje uma rua, um largo e uma tradicional escola de samba com o nome do fundador do Rio. Na Urca, o corajoso português é homenageado dando seu nome à tradicional E.M. Estácio de Sá.

Texto de Ronaldo Vainfas.

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