CINE TEATRO INDAIÁ

Inaugurado em 28 de dezembro de 1950, o Cine Teatro Indaiá estava instalado em uma edificação bem no centro de Dores do Indaiá, na avenida principal da cidade, a avenida Francisco Campos. 

Na época, houve uma grande divulgação da inauguração do Cine Teatro Indaiá, um grande local de entretenimento e da cultura de Dores do Indaiá. A seguir veja uma das divulgações do estabelecimento no jornal dorense "O Liberal":

“Nossa cidade possui hoje, com a inauguração do Cine-Teatro Indaiá, uma das melhores casas de diversões do Estado. À solenidade da inauguração, a 28 de dezembro último, atraiu grande multidão que lotou completamente o grande salão. O Sr. Dr. Gustavo Tostes, presidente da Empresa de Melhoramentos Dores do Indaiá ladeado pelos demais membros da diretoria, deu a palavra ao Sr. Dr. José Bernardes Filho, que proferiu magnifico discurso. Em seguida, o presidente da Empresa declarou instalado o Cine-Teatro Indaiá, que, disse, entregava ao povo da cidade. Seguiram-se duas sessões, com um filme escolhido especialmente para aquele dia. O Cine-Teatro Indaiá está proporcionando sessões diárias, segundo fomos informados, filmes esplêndidos estão programados para breve”.

Paulo Ribeiro de Andrade, que viveu a época da existência do Cine Teatro Indaiá, relata um pouco da história do local:

“O Cinema foi construído pela Empresa de Melhoramentos Dores do Indaiá, a quem pertencia. A Empresa  era composta por homens importantes da época, como Olavo Lacerda, Cândido Ribeiro, Dr. Gustavo Tostes e outros que não me lembro. O filme da inauguração foi “A Escola de Sereias”, com Esther William e Red Skelton, com a orquestra de Xavier Cugat, e a participação do tenor colombiano Carlos Ramirez. Um musical exibido em duas sessões com o cinema lotado (Eu estava lá). Era um cinema onde exigiam, para homens, traje a rigor não dispensando o uso do paletó. Fui um assíduo frequentador de sua sala”.

Construção arrojada, arquitetura avançada para a época, e uma referência para nossa cidade. Sua beleza interna, espaçoso. Belos tapetes vermelhos, grandes e pesadas cortinas. Luzes multicores. O Cinema era sempre uma atração, pois, não havia ia muita opção de lazer. A meninada adorava as matinês, aos domingos, às 14:00 horas. Jovens e adultos lotavam as sessões aos sábados e domingos. As sessões começavam às 20:00 horas. Uma hora antes do horário previsto para o início da sessão, uma sirene soava três vezes (de meia em meia hora), cujo som ecoava por toda a cidade. Bem antes da sessão, iniciava-se em frente ao Cinema, o “footing”, que era sempre aguardado por todos, onde as moças andavam num sentido e os rapazes no outro. Aos sábados e domingos os “footings”eram  bem mais movimentados, e um verdadeiro desfile de moças bonitas enchiam os olhos da rapaziada. Creio que muitos namoros e até casamentos nasceram de um olhar nos “footings”. No saguão ficavam expostos cavaletes de madeira com cartazes dos próximos filmes a serem exibidos. Havia também cartazes expostos na parede da rampa que dava acesso à sala de projeção. Os atentos e sorridentes “Baleiros” oferecendo a todos, balinhas (preferencialmente Balas Chita), Tofee, Chicletes Adams, Bombons Sonho de Valsa etc. E a presença do “Lanterninha”, sempre pronto para atender os retardatários, ajudando-os a localizarem seus lugares, mas, no imaginário malicioso da rapaziada, a intenção primordial era “vigiar” os casais mais afoitos e mais “avançadinhos”. A plateia ficava ansiosa para o início da sessão. Pouco antes do início da sessão, alguns jovens e alguns senhores ficavam na lateral da sala de projeção, conversando ou fumando aguardando o início da sessão. Assim que apagavam as luzes, procuravam, imediatamente, seus respectivos lugares. Tocavam algumas músicas, mas, a mais aguardada era o prefixo musical, a inesquecível Jealousy, c om a orquestra de Mantovani. Terminado o prefixo musical, soavam, três sonoros tons. As luzes lentamente se apagavam. As cortinas laterais se fechavam e as cortinas do palco se abriam, aumentando ainda mais a nossa expectativa e finalmente o espetáculo começava. Antes do filme, havia um breve noticiário, documentários produzidos por Jean Manson, nas vozes inconfundíveis de Ramos Calhelha e Luiz Jatobá. Canal 100, cinejornal fundado por Carlos Niemeyer, onde eram exibidos flashes do Torneio de Futebol Rio-São Paulo, na voz de um jovem que viria ser um dos maiores locutores do Brasil, Cid Moreira. Eram também exibidos trailers dos próximos filmes. Terminada a sessão todos saiam comentando o filme. Muitas vezes pessoas emocionadas com o filme, não conseguiam esconder as lágrimas. Os filmes eram em sua maioria em preto e branco. Poucos filmes a cores. Filmes que nos faziam rir, chora, sonhar. As matinês, aos domingos começavam às 14:00 horas, após a sirene soar três vezes (de meia em meia hora). Era alegria da meninada e dos jovens. Antes do início da sessão tocavam também músicas infantis, tais como: 

Fui na fonte do Tororó, O cravo brigou com a rosa, entre outras. Filmes infantis, de aventuras, faroeste, Tarzan, comédias, épicos etc. Terminado o filme, seguia-se imediatamente, o Seriado, que na verdade nunca terminava, pois, sempre continuava no próximo domingo. Crianças que éramos, pensávamos que os “artistas” e as “artistas”, nossos heróis, nunca morriam e só os índios e bandidos morriam. Hoje, já velhos sabemos que os nossos heróis também morrem, mas, continuam vivos em nossa memória, O Cinema também era utilizado para eventos, encontros políticos, entrega de diplomas etc., sempre com a presença do incansável Josué Chagas e seus auxiliares, para transmitirem através da saudosa ZYV 22 Rádio Cultura, as solenidades para os lares dorenses e região, muitas vezes na voz firme e inconfundível do Djalma Melgaço. Como a maioria dos jovens, meu desejo era assistir filme impróprio para menores de dezoito anos. Um belo dia, num ímpeto de ousadia e coragem consegui entrar, não obstante ter dezessete anos. Meu físico avantajado dava impressão de que realmente eu tinha dezoito anos. Mas, quanta frustação. O filme não era nada do que eu pensava. Não me lembro do nome do filme. Os filmes não tinham tanto apelo sexual até que surgiu o “furacão” Brigitte Bardot, em alguns filmes “quentes”. Foi uma revolução.

Fico feliz, muito feliz, por ter vivido aquela época, chamada de “Época de ouro do Cinema”. Deixei  Dores do Indaiá aos dezoito anos, mas quando voltava à minha querida cidade, a alegria era imensa; matar a saudade, rever meus pais, meus amigos e ir ao Cinema. 

CURIOSIDADES:

> Primeiro filme exibido: A Escola de Sereias, com Esther Williams e Red Skelton.

> Primeiro filme exibido no sistema CinemaScope, Estigma da Crueldade, com Gregory Peck e Joan Collins.

Texto retirado do site Amigos de Dores do Indaiá (ADI), com adaptação de Leonardo Mendonça, do Folha do Indaiá. 


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