O SOM DE DORES ERA O SOM DOS TAMBORES
O som de Dores era o som dos tambores. Começava em janeiro, com as Folias de Reis. Eram pequenas, mas o canto era um lamento, triste, varava a noite.
Pouco depois vinham os dançantes ensaiando para a Festa do Rosário. Começavam meses antes. Eram muitos grupos, e tambores ecoando nas madrugadas e aquele canto manhoso, com várias vozes em harmonia. Na minha cama no escuro eu sabia qual era o terno que estava mais próximo. Nos dias da festa eles estavam em todos os cantos, coloridos, cheios de ginga, cantando e batendo tambores.
Passada a Festa, começa os estudantes se preparando para o 7 de setembro. Mais tambores, outro ritmo, cadenciado, uma marcha constante. Como uma preparação para a guerra da vida. Um mês depois, em 8 de outubro o espetáculo dos tambores se repetia.
O som de Dores era o som dos tambores e durava o ano todo. Isso está entranhado na minha cabeça. As vezes acordo de noite e tenho a impressão de ouvir tambores e um lamento lá longe...
Texto de Rubem Ur.
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