PECADO ABAIXO DO EQUADOR?

Sempre sustentei que o escasso conhecimento da história do Brasil que notamos em muitas pessoas se deve à quase total ignorância delas sobre a história de Minas Gerais. Sem conhecer o que lá se passou no tempo da mineração, não vejo como alguém possa formar uma base sólida a respeito da história brasileira. 

Sei que sou suspeito para dizer isso, pois sou de lá e sempre nutri um grande apreço, diria mesmo um amor, pelas coisas de Minas. Mas até hoje ninguém conseguiu me demover dessa avaliação. 

Entre os livros que colecionei sobre o assunto, um que especialmente me agrada é o do historiador inglês C.R. Boxer, A Idade do Ouro do Brasil, obra de 1962, publicada em português pela Companhia Editora Nacional em 1963. A escrita de Boxer deixa entrever um verdadeiro lorde e, de fato, ele foi nada menos e nada mais que professor de português camoniano no King’s College, da Universidade de Londres. Dono de uma monumental erudição, ele recebeu fortíssimo apoio para a pesquisa que embasou a obra, apoio que ele nos descreve no prefácio: “Este livro deve sua existência à generosidade do Senador Assis Chateaubriand, Embaixador do Brasil junto à Corte de St. James”.   

Não direi que é meu livro de cabeceira, mas de tempos em tempos deito-lhe uma vista d’olhos  e sempre encontro alguma preciosidade que antes driblara minha atenção. Hoje, repassando um longo trecho sobre o contrabando de ouro, deparei-me com esta (página 181): 

“Em março de 1731, um informante denunciou uma Casa da Moeda e uma fundição clandestinas, instaladas em região remota da serra de Paraopeba, em Minas Gerais. Eram operadas por uma quadrilha de falsários, dirigidos por Inácio de Souza Ferreira, aventureiro sem escrúpulos mas que tinha sido, sucessivamente, frade oratoriano e comandante de uma nau de carreira da Índia Oriental, antes de sua vinda para o Brasil. A quadrilha contava com especialistas outrora empregados em fundições e com mais de trinta escravos negros bem armados. O edifício incluía um prédio de residência de campo, armazéns e capela   - as necessidades espirituais dessa controlada comunidade criminosa sendo atendidas por um frade dominicano residente”.

Texto de Bolívar Lamounier.

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