DORENSE FUTEBOL CLUBE: HISTÓRIAS MARCANTES DO SEU INÍCIO

No seu primeiro ano de existência, o Dorense fez furor. Sua primeira excursão foi a Bom Despacho, onde, à chegada, foi a turma saudada por um advogado novo, recém-formado, o Dr. Onofre Mendes Júnior, e de Bom Despacho regressou o Dorense com os louros da vitória. Foi a Abaeté, e conseguiu idêntica vitória. Restava Luz, que também tinha um time respeitável. E o Dorense, entusiasmado com as vitórias que vinha obtendo, resolveu enfrentar a turma de Luz. Aí então, é que se deu a tragédia que vamos narrar. 

O Zezé Chagas havia preparado um discurso realmente formidável, com o auxílio do prof. Cornélio Caetano. No caminho de Luz, todos a cavalo, vira-se o Zezé Chagas para seu grande amigo, o Ingué, e diz-lhe: Deixe os jogadores irem na frente; quero que você  ouça o discurso que irei fazer logo mais, no banquete. E leu-o para o Ingué.

Entusiasmado com suas próprias palavras (não garanto se eram todas realmente suas ou do Cornélio), releu-o. Desejando naturalmente ter o discurso bem ensaiado, foi lendo mais uma e duas e três vezes, tendo o Ingué como ouvinte atento e solícito. No meio do caminho, era costume fazer uma parada, um descanso; nessa ocasião, apareciam as capangas de paçoca, os sanduiches e outros quitutes que se levavam na garupa dos animais. Novamente o Zezé Chagas voltava a ler o discurso para o Ingué que não cansava de elogiá-lo. Bonito discurso de fato. E tantas vezes o leu que o Ingué acabou decorando a peça. 

À chegada à cidade de Luz, foi o Dorense saudado pelo Dr Josafá Macedo´, que era também jogador do time de Luz, e dizem que bom beque. O povo de Luz é realmente gentil e cavalheiro; promoveu bela recepção, à chegada; e com isto não contavam os dorenses. Havia o discurso programado para o banquete. Como agradecer ao discurso do dr. Josafá Macedo? Cabia ao Presidente, ao Ingué, solucionar aquele problema. E como já sabia de cor todo o discurso do Zezé Chagas, o Ingué, que nunca fôra orador, falou-o inteirinho e com a maior naturalidade. O discurso foi aplaudidíssimo, todos gostaram, menos, é claro, o Zezé Chagas, que cortou relações com o Ingué por oito anos. 

Quando o Dorense voltou de Luz, com a vitória, a nossa população vibrou! No alto do Cruzeiro, o povo, com a banda de música S. Cecília, aguardava os cavaleiros, que aí foram saudados pelo  dr. José de Assis Rocha. O Dorense, invicto, empolgou o povo que, ao som de marchas, vivas e fogos, resolveu levar o Presidente até sua residência. Chegados todos à casa do Ingué, este, um tanto convencido de que era mesmo orador, resolveu agradecer aquela homenagem do povo de sua terra. Quando a banda terminou o dobrado, o Ingué começou; 

"Meus senhores, o futebol... o futebol,... o futebol..." Muita gente foi ficando preocupada. Foi quando a d. Odete Diniz, desejando salvar a situação do Ingué, gritou, no meio daquele silencio: VIVA O INGUÉ! Palmas estrugiram. A banda atacou um dobrado. Foguetes surgiram de todos os lados. Dizem que foi este o segundo e último discurso do Presidente do Dorense F.C.

Texto retirado do livro "Dores do Indaiá do Passado" de Waldemar de Almeida Barbosa.                                                                                              

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