UM GIRO PELO PASSADO


O blog vai fazer um passeio pelas sete cidades brasileiras que tiveram seu centro histórico declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. O percurso começa por Salvador, a primeira capital do Brasil, vai a Olinda, São Luís do Maranhão, as cidades históricas mineiras de Ouro Preto e Diamantina e termina na região central do país, com a visita em Goiás Velho e na capital federal, Brasília.

São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Este era o nome (e sobrenome) da primeira capital brasileira, fundada em 1549 e erguida nos moldes defensivos de Lisboa  e Porto, em Portugal. A mão de obra? Escravos africanos que começaram a chegar em 1550. Seu centro histórico reúne casarões e igrejas do século XVII e XVIII, da arquitetura renacentista e barroca. Na época, Salvador era o principal porto do hemisfério sul, movimentado pelo comércio de escravos, fumo e açúcar. Começe pelas ladeiras do Pelourinho. A caminhada pelos paralelepípedos fica mais agradável se você provar sabores baianos como a tapioca, o cajá e a mangaba. A igreja mais impressionante é a do Convento de São Francisco, revestida por quase 800 quilos de ouro. Ao lado da igreja, o pátio tem azulejos portugueses e é ideal para recuperar o fôlego. Se for na terça-feira, deixe-se envolver pelos batuques do Olodum, que ecoam pela praça Tereza Batista.

Já Olinda nasceu em 1537, como capital da capitania de Pernambuco, e desenvolveu-se com o cultivo da cana. Em 1631, foi dominada e incendiada pelos holandeses, que se 
instalaram em Recife. A disputa entre as duas cidades continuou até a Guerra dos Mascates, em 1710, que opunha os senhores de engenho de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife. Estes ganharam a contenda, com uma ajuda da Coroa. Construções coloniais, renacentistas e barrocas formam o patrimônio arquitetônico de Olinda. Do Alto da Sé, tem-se uma visão perfeita da cidade vizinha e ex-inimiga, rodeada pelo mar azul. Há um conjunto de igrejas a visitar: a Sé, de 1537 e a Igreja da Misericórdia, de 1540, além do Convento de São Francisco, o primeiro da Ordem Franciscana no Brasil, formado pelas capelas de Sant'Anna, São Roque e Nossa Senhora das Neves.

No século XVI, índios nativos expulsaram os primeiros portugueses e começaram a negociar com o franceses, que fundaram São Luís em 1612, em homenagem a Luis XIII. Franceses e índios se uniram contra a Coroa Portuguesa, que acabou por recuperar o território. Em seguida, o holandês Maurício de Nassau tomou conta da área até uma nova reconquista portuguesa em 1644. Reserve um dia para passear pelas ruas Portugal, do Sol, do Trapiche, do Giz e da Estrela. Repare nas sacadas de ferro e nas fachadas cobertas por azulejos franceses e portugueses, eram moda na década de 1830, que na realidade serviam de proteção da chuva e do calor.

Igrejas. Elas existiam aos montes na cidade de Aleijadinho (1730-1814), escultor expoente do barroco mineiro e do rococó. Para visitar a antiga Vila Rica, fundada em 1698, palco da Inconfidência Mineira e símbolo da corrida pelo ouro no Brasil é bom ter muita disposição. Vale a pena: trata-se do maior e mais homogênio conjunto barroco do mundo. Duas igrejas são obrigatórias: a Matriz de Nossa Senhora do Pilar, de 1786, a segunda mais rica do Brasil (perde só para a de São Francisco, em Salvador), com muito ouro e anjos esculpidos; e a igreja de São Francisco de Assis, obra-prima de Aleijadinho, responsável pela portada, pelos púlpitos e pelo lavabo da sacristia. O teto e os painéis são pintados pelo Mestre Ataíde
(1762-1830).

A terra de Chica da Silva e Juscelino Kubischek nasceu como Arraial do Tijuco em 1713, mas só virou cidade e de nome Diamantina em 1835. Nome bem coerente, aliás, já que os diamantes faziam parte da rotina de quem ali vivia e dos milhares que chegavam para explorar também o ouro e outras pedras preciosas. Essa riqueza trouxe uma sociedade afeita ás artes e a detalhes arquitetônicos como treliças e muxarabis. Hoje, veem-se as ruas calçadas com pedras, as casas branquinhas com portas e janelas e uma jóia: a Casa da Glória, com um passadiço de madeira suspenso, ligando as duas construções. Outras atrações são a Casa de Chica da Silva, na Praça Lobo Mesquita, o ninho de amor da escrava alforriada com o rico contratador de diamantes
João Fernandes de Oliveira.

No coração do cerrado, aos pés da Serra Dourada, fica a bela cidade de Goiás, também chamada de Goiás Velho. Fundada em 1726 pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera, foi capital do estado e viveu o auge do Ciclo do Ouro. Deixou para a posteridade ruas de pedras irregulares, casarões e igrejas coloniais. É bom esquecer o relógio para  explorar a cidade da poeta Cora Coralina (1889-1985). Os 18 cômodos da Casa Cora Coralina guardam suas roupas e objetos, além do tacho de cobre que ela usava para fazer doces cristalizados.Percorrer o circuito das quituteiras é fundamental, como os doces de Dona Dita, Dona Zilda, Dona Divina e Dona Rita.

Em 2010, a mais nova das cidades históricas brasileiras completou 50 anos, esta é Brasília, a capital federal. O projeto do urbanista Lúcio Costa e do arquiteto Oscar Niemeyer é um marco modernista. Basta uma volta na Praça dos Três Poderes para se sentir dentro de uma obra de arte. Visitas guiadas são a melhor forma de conhecer o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Nos finais de semana, os plenários ficam vazios e você pode tirar fotos lá dentro, sob a cúpula côncava do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados. O Palácio do Planalto só pode ser visto por dentro aos domingos. Na Esplanada dos Ministérios, passeie pelos jardins de Burle Marx, em frente ao Palácio do Itamaraty, e contemple a obra "Meteoro", de Bruno Giorgi, sobre o espelho-d'água. O Memorial JK guarda o túmulo do ex-presidente, além de fotos, documentos e objetos, afinal, ele é o "pai" de Brasilia.

Fonte: Revista Viajante.

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