A CENTRALIDADE DE MINAS GERAIS NO PERÍODO COLONIAL


 
A idéia de centralidade das Minas é basicamente relacionada com o aumento da importância que a extração do ouro, gerando lucros de maneira significativa para o império português, e influenciando a Coroa Portuguesa a deixar de lado o comércio do oriente e iniciar a exploração de ouro nas Minas brasileiras. Essa idéia foi disseminada em ambientes mais amplos, principalmente entre as pessoas de origem portuguesa que circulavam pela região das Minas no início da descoberta do ouro.

O que se pode perceber dessa centralidade das Minas, que essa região se projetava em um papel geopolítico muito mais amplo do poder do Império Português sobre o continente americano. Para dom Luis da Cunha, essa proposta estava incluída na lógica do império e que deveria ter a mudança do eixo econômico e político de Portugal para a colônia (no caso, o Brasil). Para isso acontecer de fato, era preciso conhecer o interior do território brasileiro, que era bastante desconhecido, e para isso, seria necessário cartografar as regiões interioranas, principalmente o interior do sudeste (das Minas Gerais) e das regiões da foz do rio da Prata, da bacia amazônica, para informar aos representantes diplomáticos nas regiões em disputa com o Império espanhol o que existia naquelas regiões e começasse o povoamento de forma mais intensa.

A ocupação do interior foi de certa forma facilitada pela barreira natural que é a cordilheira dos Andes, dificultando a passagem dos colonizadores espanhóis a povoar o que inicialmente era de direito e pelo fato dos colonizadores espanhóis já estarem bastante concentrados e adaptados no litoral do pacífico, e facilitando que os colonos portugueses a povoarem esse interior desconhecido.

Assim, nesse intuito de povoar o interior, a região das Minas é vista como um objeto de lucro e riqueza em direção aos cofres dos demais Estados da Europa, principalmente para a Inglaterra. Com essa riqueza aurífera, Portugal se vê com a possibilidade de mudar o equilíbrio geo-político na Europa, porém a dependência econômica que Portugal tinha com os demais Estados europeus, tirava todo o ímpeto de Portugal na obtenção de riquezas, porque quase todo o ouro extraído era transferido para pagar dívidas de Portugal com os demais países, essencialmente a Inglaterra. Também esse ouro sustentava o desenvolvimento de economias como a França e Holanda e ameaçava de forma clara o império marítimo português.

Além de boa parte da produção aurífera ser transferida para os países europeus, ainda tinha o perigo dos ataques de piratas no litoral brasileiro, principalmente da pirataria francesa, tendo o império português uma atenção contínua contra esse tipo de ação. No que se diz respeito no ambiente interno, a Guerra dos Emboabas, guerra em que os paulistas e forasteiros (emboabas) disputaram o controle sobre a região mineradora também gerou grande aflição nas relações entre os nativos e os europeus, principalmente com os portugueses.

Mesmo com todos esses conflitos internos e externos, a produção aurífera ainda era muito lucrativa para o império português. A Corte Portuguesa tinha altos gastos e era sustentada basicamente dos impostos das riquezas que eram extraídas do Brasil, com grande ênfase para economia açucareira no litoral do nordeste brasileiro e a economia mineradora no interior do sudeste.

Outro aspecto importante da centralidade das Minas Gerais, que além da atividade mineradora, a região das Minas tinha uma atividade pecuarista de forma a complementadora, ou  seja, era uma atividade basicamente de subsistência que se localizava em boa parte nas margens dos rios e era feita de maneira extensiva. Também as relações de troca de alimentos e objetos eram de certa forma significativos, já que não existia a moeda como um elemento de troca.

É nesse contexto de pura movimentação social, política e econômica que vai surgir uma elite colonial, que é ciente dos acontecimentos que ocorrem no Brasil e que aprofunda e aprimora ideais nas universidades européias, como a Universidade de Coimbra, em Portugal. Claramente, a produção aurífera não foi controlada de maneira forte pelo império português, deixando os países europeus tomarem controle das riquezas produzidas e vendo uma elite colonial se desenvolver as custas da incapacidade de organização de um território (o território brasileiro), que era totalmente diferente da organização do território português.

O fato é que a elite administrativa portuguesa lucrou muito menos que poderia ter lucrado com a produção aurífera, e que os Estados estrangeiros europeus se beneficiaram de maneira forte das Minas Gerais. A política de interiorização do território, com o foco de buscar riquezas para abastecer o império português e as elites locais foi em vão quando essas regiões começaram a ser conhecidas primeiro pelas pessoas de origem portuguesa e logo pelos estrangeiros europeus, que tinham uma certa relação com a elite portuguesa, tanto na Europa, quanto no Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FURTADO, Júnia Ferreira. Dom Luis da Cunha e a Centralidade das Minas Auríferas Brasileiras. 2007.

FURTADO, Júnia Ferreira. O Peregrino Instruído: José Rodrigues Abreu e a geografia imaginária das minas brasileiras.

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