TURISMO PEDAGÓGICO: A SALA DE AULA DA CONTEMPORANEIDADE


Para o geógrafo Aziz Ab’saber, a educação contribui teoricamente para o fortalecimento da sociedade, escutando o desejo comunitário, valorizando a cultura popular, promovendo a percepção e reflexão, elevando a qualidade de vida local e superando eventuais níveis de exclusão social existentes. Neste contexto, este renomado educador reforça a necessidade de criar nos alunos uma intimidade e integração com o lugar onde vivem, transformando-o em oficina de talentos com constantes estímulos ao entendimento, ao conhecimento e a atuação local, de forma a extrair dos discentes o que eles têm de melhor.

Assim as discussões contemporâneas da educação visam a reformular o ensino para efetivar o desenvolvimento intelectual, físico, social, moral, emocional e espiritual do ser humano, justificando uma intervenção cada vez mais diferenciada na formação de atitudes, conceitos e procedimentos.

Atualmente, os currículos predominantes vertem para uma formação pedagógica ampla e integrada que perpassa diversos saberes e campos científicos: artes, cultura, cidadania, ecologia, esportes, ética, geografia, história, lazer, literatura, matemática, português, religiosidade e saúde. Mas apesar dessa perspectiva inovadora, os sujeitos recebem grande quantidade de informações técnicas/teóricas com destaque para a priorização de matemática e língua portuguesa sobre os demais conteúdos, fator que prejudica a construção de uma leitura de mundo mais crítica e coerente.

Essa priorização lógico/linguística, somada à ausência de materiais didáticos significativos, limita o processo educativo, tornando indispensável a saída dos alunos para vivenciar os conteúdos discutidos apenas em sala de aula, onde apenas se fala ou se ouve. Ver e vivenciar in loco os inúmeros conceitos discutidos no espaço físico da escola é uma forma coerente de consolidar o comprometimento com atitudes, hábitos e valores autênticos que reformulem a ordem socioeconômica vigente.

Com esse mecanismo didático-pedagógico, os alunos saem dos limites da sala de aula, explorando suas potencialidades através da investigação, do reconhecimento e da interação, participando e atuando ativamente na realidade/comunidade como cidadãos conscientes e críticos. Neste contexto, a “saída a campo” forma uma consciência crítica ao promover uma análise do ambiente natural e social que cerca os alunos, bem como das relações estabelecidas entre ambos.

O turismo pedagógico, também denominado de “aula-passeio”, emerge nessa perspectiva contemporânea de interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e transversalidade, caracterizando-se como uma tipologia que contempla o aluno aqui entendido como “turista” com motivações educacionais. Seu principal objetivo é transportar o conhecimento teórico-científico para o ambiente extraescolar permitindo a descoberta de novas experiências para os mais diversos públicos: infantil, juvenil, adulto ou idoso.

Marina Millardi Bossi relata que a aula-passeio consiste em atividades extraclasses, em que se valorizam as necessidades vitais: criar, se expressar, comunicar, viver em grupo, ter sucesso, agir-descobrir, se organizar. Assim sendo, no turismo pedagógico, o “material didático” passa a ser o ambiente cultural e natural; e o aluno, como turista, é quem vivencia, questiona e aprende com os elementos desse ambiente. Neste sentido, observa-se que uma atividade turística de cunho educativo pode propiciar momentos essenciais à aprendizagem ao despertar no sujeito a curiosidade por diferentes grupos locais e relações sociais que serão analisados em paisagens naturais, urbanas ou rurais.

Uma atividade pedagógica de leitura e interpretação ambiental consiste na organização técnica de viagens com finalidades de percepção, vivência e aprendizagem, conjugando o conhecimento teórico apresentado em sala de aula com a prática do lazer e da ludicidade. Por sua vez, a viagem em si, caracterizada como o momento de contato e percepção de diferentes paisagens e lugares, permite a busca por mais informações sobre determinado assunto tratado, correlacionando diferentes conteúdos numa perspectiva interdisciplinar. 

Nessa proposta inovadora de educação socioambiental, a participação se efetiva como instrumento que ultrapassa os limites didáticos convencionais, mobilizando os alunos para a leitura, percepção, interpretação e análise da realidade local.

O principal objetivo da leitura e interpretação ambiental é fornecer bases didático-pedagógicas para a construção de um conhecimento da realidade socioambiental local/global, a partir da percepção dos participantes, enriquecendo o processo educativo. 

Assim, para se sedimentar conceitos, a leitura e interpretação podem propor experiências ligadas à percepção socioambiental em determinada localidade/realidade rural ou urbana, desenvolvendo amplo processo de pesquisa e estudos sobre o patrimônio natural e cultural das comunidades e aspectos correlacionados. Uma vez entendida a realidade em que se vive, orientam-se melhor as ações, promovendo a melhoria da qualidade de vida.

A percepção e interpretação da paisagem trazem importantes considerações sobre o conhecimento da realidade socioambiental em seus múltiplos aspectos, caracterizando-se como relevante instrumento didático para as ciências naturais, geografia e história, dentre outros currículos propostos na educação contemporânea. 

Texto de Vagner Luciano de Andrade, educador e mobilizador social. Bacharel/licenciado em Geografia e Análise Ambiental pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), graduando em Licenciatura em Educação do Campo pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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