PLANEJAMENTO TURÍSTICO DA RELIGIOSIDADE: UM NOVO MARCO DE INVESTIMENTO

Discutir o planejamento turístico é, acima de tudo, optar por uma matriz técnica e política que oriente a filosofia de planejamento que se pretende. A proposição de um planejamento transacional, formulada por Molina e Rodriguez (2001), corresponde a essa opção pelo enfrentamento de um dos maiores desafios para o relacionamento entre planejadores e receptores: a comunicação. A linguagem dos técnicos não se traduz nem se deixa traduzir na linguagem dos grupos e indivíduos integrantes da comunidade receptora.

Entretanto, de acordo com Molina e Rodriguez (2001), o planejamento transacional "é uma alternativa pouco provada para obter resultados permanentes no processo de desenvolvimento turístico". O motivo principal para essa limitação prática encontra-se justamente na enorme defasagem de formação acadêmica dos profissionais perante as demandas sociais mais significativas. Resumindo, pode-se depreender dessa crítica que o investimento em recursos humanos (e não a promoção de atrativos) corresponde ao principal incentivo ao desenvolvimento do turismo no Brasil.

Essa linha de pensamento facilita enormemente uma reavaliação do papel do turismo religioso mediante a resposta da seguinte indagação: de que maneira a visitação religiosa em santuários (tradicionais e profanos) coopera com esse foco de investimento em recursos humanos? Independentemente dos exemplos dos centros de cultos, festas e peregrinação que aparecem no mapa publicado pelo Jornal do Brasil, não é o peso do turismo religioso na receita do município que responde essa pergunta.

A resposta advém da prática religiosa (no caso cristã) como o mais antigo - e até agora eficiente - sistema de globalização das comunicações no mundo ocidental. O cristianismo, entre outras religiões universais, não discrimina seus membros a uma condição de inferioridade diante de um grupo privilegiado de "estrangeiros". O trabalho prioritário da religião está no processo emissivo; por isso, ele é expansivo e doador de poderes aos centros que irradiam essa expansão.

O turismo tradicional e seu planejamento tecnicista - amparado em falsas e velhas políticas de desenvolvimento local - faz exatamente o contrário: capacita seus "melhores" profissionais e partes da comunidade local para dinamizar seu receptivo e aumentar a capacitação de recursos por intermédio dos equipamentos e serviços turísticos. Mesmo que os números do turismo religioso, em grandes centros de peregrinação sejam consideráveis ou que a discussão desse segmento seja promovida pela proposta de turismo popular rentável, o critério de qualificação dos recursos humanos continuará subordinado a visão estritamente empresarial. Em princípio, nada a condenar quando o foco de planejamento se resume à manutenção conservadora dos mecanismos de crescimento legal.

É fundamental observar, interpretar, dimensionar os santuários profanos de municípios e regiões marcados por culturas e ambientes não diretamente associados ao campo religioso. É aí que construímos bases de um investimento alternativo no enfoque transacional. Qual a potencialidade turística de Maringá (PR), Nova Iguaçu (RJ), Curitibanos (SC), Coxim (MS),  Osasco (SP), Quixadá (CE), para citar apenas seis da maioria de municípios brasileiros quase ignorados pelo planejamento turístico? Que dirá então de sua potencialidade turístico-religiosa? Independentemente disso, nenhuma igreja (cristã ou não) os rejeita na mínima possibilidade de erguer um templo em seu território. Essa é a mais preciosa idéia a ser absorvida pela relação entre turismo e práticas religiosas.

Assim sendo, o investimento turístico que, alternativamente, siga um direcionamento inclusivo e universal. Tal qual o exercício eclesial de propagação da fé cristã ou a projeção de políticas públicas na saúde, educação, moradia, não há menor sentido em investir no turismo de lugares atrativos. Todo e qualquer lugar é turístico simplesmente por ter turistas e, religiosamente, porque tem gente com fé e devoção a Deus.

Fonte: OLIVEIRA, Christian Dennys Monteiro. Turismo religioso no Brasil: construindo um investimento sociocultural.

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