ECOTURISMO: POLÍTICAS PÚBLICAS E A SOCIEDADE LOCAL
A atividade turística vem crescendo vertiginosamente nas últimas décadas em todo mundo, inclusive no Brasil. Entretanto esse crescimento muitas vezes não é ordenado, ou seja, não tem um planejamento satisfatório que coordene as ações das empresas e pessoas ligadas ao turismo, causando males significativos para os equipamentos turísticos, infra-estrutura do receptivo e comunidade local.
Assim,
como em boa parte do mundo, a atividade turística no Brasil teve na sua origem
e é até hoje pautado pelo turismo de massa, caso do turismo de sol e praia.
Essa atividade em massa é muito focada na questão do marketing e do
embelezamento da localidade num primeiro momento, entretanto, posteriormente
essa grande quantidade de pessoas visitando um mesmo local pode acarretar
sérios problemas, tais como o desgaste de recursos naturais, o desrespeito a
cultura local, a sazonalidade (o município pode arrecadar muito em determinada
época e outra nem tanto), especulação imobiliária e de terrenos, entre outros.
Uma
atividade que está sendo desenvolvida nos últimos anos denominada de “turismo
alternativo” ou ecoturismo. Seus princípios são permeados pela
sustentabilidade, turismo em pequena escala e de âmbito local, contato direto
entre o visitante e a comunidade e pelo menor impacto das ações antrópicas
sobre o meio ambiente. A aplicação de todas essas ações em boa parte das
atividades turísticas seria o desejável, porém o interesse capitalista
fulminante por lucros inviabiliza e muito a concretização desses conceitos na
maior parte do planeta.
É
inegável o fortalecimento do ecoturismo, tendo como bases a garantia da
conservação ambiental, da educação e dos benefícios das comunidades receptoras.
Mas o que se iniciou como um conceito organizado pelos ecologistas para
diminuir a destruição do meio ambiente está se tornando peça de marketing,
assim como o turismo de massa, nas mãos dos empreendedores da atividade
turística.
A
mercantilização do ecoturismo também pode ter entre suas influências entre o
conceito e a prática da atividade. Num primeiro momento a segmentação
disponibiliza uma série de vantagens para as empresas turísticas, como o
aumento da concorrência, onde se direciona para o marketing, proporcionando uma
promoção mais eficaz dos destinos. Por outro lado, é preciso indagar se as
comunidade locais se apropriam do turismo para melhorar as condições de vida, e
se as operadoras desenvolvem os pacotes turísticos e fazem a operacionalização.
Um
dos grandes impulsos do ecoturismo, pelo menos no Brasil, foi a criação das
Unidades de Conservação (UC) pelo governo federal. A primeira Unidade de
Conservação do Brasil foi criada em 1937 (Parque do Itatiaia) fruto de grande
influência de Yellowstone, em 1982, nos Estados Unidos. Mas o uso dessas
unidades passou a ser realmente mais efetivo com o surgimento do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) em 2001. Com o SNUC, se estabeleceu
os marcos referenciais para o processo de criação de uma Unidade de
Conservação, além do uso após o surgimento dessa, como a criação de um Plano de
Manejo. A criação de uma UC envolve vários problemas, entre eles está a
desterritorialização de comunidades já ambientadas a área e uma gestão que
atenda a boa parte dos interesses e resolva as problemáticas da unidade.
Entre
os principais pontos do SNUC, podemos enfatizar a existência de um Plano de
Manejo que deve ser elaborado num prazo de cinco anos após a criação da
unidade. Só por esse ponto, pode-se dizer de maneira bem clara que é uma lei
não cumprida pela maioria das Unidades de Conservação. Um exemplo disso é do
Parque do Itacolomi, o parque foi criado em 1967 na região de Ouro Preto e
Mariana, o SNUC foi criado em 2001 e o Plano de Manejo só surgiu em outubro de
2007. É óbvio que existem dificuldades, mas a estruturação de um parque demorar
tanto tempo, nos faz refletir a existência dele, já que não é útil nem pra
população, nem pelo poder público.
É
bom ressaltar que o turismo não é a salvação para a melhoria de qualidade de
vida de uma região e tão pouco geradora de emprego e renda de modo a abordar
toda a comunidade. O ecoturismo tem que ser desenvolvido de acordo com as
características locais, priorizando os costumes e hábitos da população, como
uma maneira alternativa e complementar na maior partes das comunidades do
Brasil, que não possui um ambiente e uma cultura turística.
Em
suma, o ecoturismo é uma prática que tem se desenvolvido no Brasil de modo
relevante, entretanto, todas as ações e tentativas ainda são muito pequenos
diante da fantástica potencialidade ambiental que o país possui e também dos
grandes embates territoriais presentes em boa parte da implantação de unidades
de conservação pelo governo, seja ela federal, estadual ou municipal, com a
comunidade envolvida.
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