O MUNDO MÁGICO DE MARC CHAGALL: O SONHO E A VIDA


Marc Chagall foi um dos introdutores do estilo moderno, influenciando artistas de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, foi um artista que vivenciou as grandes metamorfoses que ocorreram nas artes plásticas e na história da humanidade no começo do século passado. Mesmo com o convívio de grande relevância com as vanguardas européias, sua produção fez um percurso independente, não sendo fortemente influenciado pelos acontecimentos daquela época. 

Chagall nasceu no dia 6 de junho de 1887, em um bairro pobre de judeus de Vitebsk, cidade da Bielo- Rússia, que naquele tempo fazia parte da Rússia. Nessa época, os judeus eram vítimas constantes de ataques violentos, destruindo casas, estabelecimentos comerciais e centros religiosos. Foi nesse ambiente nada agradável que Chagall viveu sua infância e adolescência, além do início de sua carreira como artista. Certamente, Chagall foi um homem privilegiado por participar de momentos de profundas mudanças e de apresentar-se como um dos mais expressivos artistas de sua época.

A cultura dos judeus influenciou bastante na pintura de Marc Chagall, porque seus familiares pertenciam a um grupo religioso, cuja relação com Deus se dá por meio de forte alegria, tendo esse sentimento refletido na sua produção, mesmo vivendo boa parte de sua vida na França, sempre levava consigo a lembrança do bairro de Vitebsk, onde nasceu.

Chagall tinha admiração pela arte popular russa e pelas principais personalidades artísticas daquele país. Também recebeu influência de grandes nomes das artes, como por exemplo, Cézanne, com relação ao que fazer com o espaço, de Matisse e Bonnard, incorporando ensinamentos cromáticos em sua obra. Percebe-se o interesse em sua produção pelo cubismo, através de seus traços sobrepostos, inovando e se diferenciando, criando assim, um sentimento próprio, de grande sensualismo e bastante lirismo.

Com grande ímpeto, foi impressionante a sua desenvoltura com as cores, muitas vezes contrapondo-as, derrubando a idéia formal, do certo absoluto. Ele fez pinturas, gravuras, vitrais, mosaicos, cerâmicas e esculturas, cerca de trezentos objetos de sua produção artística estão expostos aqui no Brasil, na Casa Fiat de Cultura.

Marc Chagall morreu em 28 de março de 1985, depois de ter passado parte do dia trabalhando em seu ateliê, na cidade de Saint-Paul de Vence, na França.

Na pintura, em diversos casos, os contrastes das cores puras divergem com a realidade comum a todos nós, com representações contrariando a lógica das pessoas e dos objetos, por eles representados. Por exemplo, uma pintura de uma vaca azul, ora sabemos que a ampla maioria das vacas não tem a cor azul. Talvez essa magia, essa fantasia de criar algo que não condiz com a realidade, reforça seu interesse em transitar pelo concreto e pelo abstrato, assim como amplia seu lirismo e sua liberdade espiritual.
             
Marc Chagall produziu uma extensa obra artística e de forte lirismo. Principalmente na sua produção gráfica, observa-se intensa associação da poesia com a literatura.
              
Em “As almas mortas”, cada personagem do romance ressuscitou na lembrança de Chagall tipos de pessoas da antiga Rússia, que foi desaparecendo com a Revolução comunista russa. Nos desenhos, Chagall incorporou um estilo determinante, tendo produções de seres nús, relacionando na sua produção gráfica o satírico e o lirismo sério da Rússia.
              
Nas “Fábulas de La Fontaine”, Chagall produziu 100 guaches, uma para cada de La Fontaine, entre os anos de 1926 e 1927. Ainda em 1927, ele voltou aos temas e começou uma seqüência de 100 gravuras em metal, sendo que 23 foram apresentadas nessa exposição. Finalizada em 1930, a seqüência só foi publicada 12 anos depois.
              
Chagall também teve uma forte relação com a bíblia em seus trabalhos de 1931 até 1939, numa série de 105 gravuras relativas à bíblia. Seus personagens foram criados de modo totalmente diferente daquelas já conhecidas. Chagall assimilou outra visão de espaço para registrar com veemência os acontecimentos relatados na bíblia.
              
Com relação a “Dafne e Cloé”, Chagall viajou duas vezes para a Grécia com o objetivo de vivenciar a atmosfera daquele país e para melhor conhecer a cultura pastoril. Entre 1953 e 1954, Chagall realizou 42 guaches, sendo que depois de 1957, foram mudados para litografias. Alcançando excelente beleza cromática das litografias, foi desenvolvido um processo muito detalhista que usava uma pedra para cada cor. Então, as gravuras dessa série exigiram 25 pedras matrizes e 25 impressões de cada uma.
              
No Brasil, sua influência pode ser constatada por autores modernistas, como Ismael Nery, Cícero Dias e Antônio Gomide, e por contemporâneos, apesar do pouco contato.
              
Mas o que mais impressiona em Marc Chagall, é sua independência em suas produções, sua poética sensual e seu lirismo, totalmente contrário de sua terra natal, uma alma dura e sem nenhum tipo de sentimento. Ele foi diverso e múltiplo naquilo que se propôs a fazer, se tornando inconfundível, completo nas suas pinturas e nas suas gravuras.
              
A técnica da litografia mostra sua busca pela perfeição que ele considera nos detalhes, tentar chegar no belo. Mesmo com todo o seu conhecimento e com toda sua experiência, Chagall era humilde, talvez o maior gesto de sua genialidade.

VEJA UM POUCO DA BIOGRAFIA DE MARC CHAGALL


Texto de Leonardo Mendonça, do Folha do Indaiá, com informações da Casa Fiat de Cultura.  

Comentários

  1. Interessante conhecer um pouco mais deste artista. O quadro me fez lembrar do neoclassicismo por conta dos elementos que remetem à natureza (campo, flores, o animal) e pelo casal que parece inspirado por este "locus amenus"

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    1. Sim Michele. Chagall busca muito da sua obra na natureza e na mistura
      das cores.

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